Começa quando nos olham. Estranham e não disfarçam o olhar de espanto quando não correspondemos aos estereótipos que ao longo dos anos foram insidiosamente desenhados pela sociedade republicana. Parece que temos forçosamente de ser uns ricaços, sempre em festa, possuidores de excêntricos bigodes, herdeiros de antigos títulos ou à espera deles. Alguém com tatuagens ou mal vestido não poderia nunca ser monárquico, foge à dita regra. O mesmo quando são intelectuais, professores ou então gente vulgar de Lineu. Assim, quando não reunimos qualquer das condições sine qua non para o tal padrão monárquico por eles criado, chega a fase da negação e passamos para a categoria extraterrestres.
Depois do choque inicial, tentam contrapor. A réplica mais ouvida é sem dúvida: Isso é coisa do passado! Como se não existissem monarquias no séc. XXI e até em vários formatos.
Outra muito comum costuma ser: Era o que mais faltava, voltar aos reis e rainhas! Ao menos o presidente escolhemos! Como se na realidade o presidente não fosse afinal escolhido pelos partidos.
Não, não somos seres de outro mundo. Existimos aqui e agora. Uns militam em partidos, outros não, exactamente da mesma forma que todos os outros. As visões que têm da sociedade, da política e do mundo são tão diversas quanto a variedade que se lhes apresenta. E são até bastante interventivos, porventura porque habituados há mais de cem anos a estar do lado desprezado da barricada.
Então porque somos monárquicos? Cada um terá com certeza as suas razões, mas algumas serão comuns.
Não há em República um órgão ou uma pessoa no poder verdadeiramente independente. Além disso, todos têm um horizonte limitado. Governa-se e tomam-se decisões essencialmente com os olhos postos nas eleições seguintes. O longo prazo simplesmente desapareceu. Existe o curto (muitas vezes curtíssimo) e raras vezes o médio.
Assim, para os monárquicos, só um rei preenche a necessidade absoluta de existir alguém que, quer tenha poderes ou não tenha quase nenhuns, seja independente de partidos e de grupos económicos podendo assim ter o bem do país como único objectivo. O horizonte de um rei nunca está limitado por eleições, corresponde ao horizonte infinito do país.
Já agora, alguém sabe quem é o primeiro-ministro holandês? Com raras excepções, não. Mas a rainha Beatriz quase todos conhecem. E sabem quem é a rainha Margarida da Dinamarca, pese embora a actual primeira-ministra que dá nas vistas mas não a sabemos nomear.
Está na moda a palavra global. E o global fascina mas tem a iniquidade de afogar o particular. Uma monarquia confere e reforça a identidade de um país. Dá-lhe tudo o que precisa para se salvar do afogamento: continuidade, presença, visibilidade, independência, horizonte, ligação entre passado e futuro.
E ainda nos perguntam porquê?
Cuidado connosco, os extraterrestres. Vemos muito bem ao longe…
Leonor Martins de Carvalho
* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.
Texto publicado no Diário Digital a 15-Abr-2013
Mas que EU subscrevo e publico no meu blogue como se fosse meu.
Porque amo o meu país e o meu povo e quero o melhor para nós. E porque o É. Pensem nisso.
3 comentários:
Tb não faço a minima ideia quem eram essas realezas que falas. LOL
A mim faz-me muita confusão que alguém tenha direitos adquiridos só pq nasceu em determinado berço. Sim, a democracia tem imensos defeitos mas não vejo como a Monarquia não os tenha.
Da mesma forma que o PM e o PR podem ser alvo de pressões e interesses partidários ou seja, não são independentes, ninguem pode garantir que um Rei defenda os interesses do país. No papel defende. Tal como numa democracia republicana. Aí vejo defeitos em todo o lado pq são todos pessoas, humanos, vulneráveis ao erro.
Por isso volto ao que disse no início, incomoda-me que alguém tenha direitos adquiridos só pq nasceu em determinado berço.
:)
Apesar de não seguir a mesma orientação agradou-me muito o texto.
Só acho que:
A monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja degeneração é a tirania.
A aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e valor estão na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia.
A democracia, que é o governo de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a demagogia.
O maior problema é que todos somos extraterrestres, todos. Vemos muito bem ao longe mas muito mal ao perto…
Continuem com o bom trabalho, não perco um post. Parabéns. E viva o Benfica.
Estou com muito pouco tempo para respostas.
Depois perceberão quando verem.
Mas a monarquia de que ambos falam não é a minha.
O rei NÃO GOVERNA. Reina. Arbitra isento.
Diz a rainha Margarida II da Dinamarca quando questionada para que serve.
"Para defender os meus cidadãos dos politicos eleitos."
Abraços :)
Enviar um comentário